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Artigos › 05/06/2014

Em defesa do familismo

Na semana passada, eu recebi um e-mail de um sacerdote brilhante, escritor admirado e velho amigo meu. No texto, ele lamentou a retórica pouco clara que dom Vincenzo Paglia, presidente do Pontifício Conselho para a Família, usou ao discursar na ONU. Li o parágrafo que ele citou e achei verdadeiramente alarmante.

No entanto, eu estudei italiano e sei o quanto uma tradução literal desse idioma para o inglês pode ser distorcida. O que me assustou, inicialmente, foram algumas implicações que eu pensei ter visto na declaração do bispo, em especial quando lida isoladamente. Eis o que ele disse:

“Não podemos ignorar o risco do ‘familismo’, isto é, da incapacidade de pensar num grupo maior [do que a nossa própria família] e da tendência a favorecer, mesmo em questões que não afetam a família diretamente, os membros do núcleo familiar. Essa tendência tem sido causa de inúmeros abusos ‘amorais’, em que o bem do grupo familiar prevalece sobre o bem da comunidade maior. Manter o calor e o carinho familiar sem comprometer o bem público e o ‘universalismo’ necessário em umasociedade avançada foi e ainda é, pelo menos em algumas áreas, um desafio difícil. Prova disso é a oscilação entre as formas persistentes de ‘familismo’ retrógrado, por um lado, e, por outro, a afirmação de um individualismo radical, que, destruindo a família, reverte o progresso da humanização sem se importar com as consequências disto no longo prazo”.

Ler isto como tendo sido dito por um importante bispo italiano disparou todo tipo de alarmes na minha cabeça. Por acaso o chefe do Conselho da Igreja para a Família estava realmente sugerindo que não devemos cuidar em primeiro lugar dos interesses dos nossos cônjuges, pais, irmãos e filhos?

Por acaso os cristãos são obrigados, como bons kantianos ou seguidores de Rousseau, a lutar por uma objetividade desumana que deixa de lado os laços de sangue? Por acaso devemos nos esforçar para ver os nossos próprios filhos como meros “cidadãozinhos” cujo bem-estar não deveria ser mais importante para nós do que o dos filhos de estranhos?

Não, não era isso.

Quando li o resto do discurso de dom Paglia, percebi que aquela declaração era fortemente contrabalançada por afirmações sólidas e matizadas sobre a primazia da família e dos seus direitos e sobre a realidade de que a família, e não o indivíduo, é a unidade básica dasociedade. Vale a pena, portanto, ler o discurso completo.

A principal razão de eu ter temido o pior é que os ataques contra a famíliaestão vindo, furiosos e velozes, dos nossos melhores e mais brilhantes tribunais e universidades, legisladores e especialistas. Por que, então, eu deveria me surpreender se mais um clérigo tivesse sucumbido à pressão da opinião politicamente correta?

Fiquei aliviado ao ver que dom Paglia não sucumbiu, embora eu tema que as suas concessões aos críticos do “familismo” venham a ser citadas fora de contexto pelos inimigos da família. É muito difícil imaginar que a preocupação prioritária com os cônjuges e com os filhos possa ser um “perigo crescente” no mundo de hoje. O perigo é exatamente o contrário!

O ponto de vista que eu pensei ter farejado na declaração do arcebispo não é tão maluco e ultrajante quanto se poderia pensar. Os esquerdistas que se opõem aos ensinamentos da Igreja em quase todas as questões usam a palavra “familismo” de modo pejorativo e promovem iniciativas que de fato prejudicam os direitos e a unidade das famílias.

A pior e mais recente que me vem à mente, aqui nos EUA, é a proposta de colocar todas as crianças do país na pré-escola. Normalmente, esse tipo de ideia é apresentado como se fosse uma “oportunidade para melhorar o nível de leitura das crianças”, por exemplo.

A justificativa é que os pais seriam totalmente desqualificados para isso e que o melhor, portanto, é levar as crianças para longe de casa na mais tenra idade e encurralá-las em grandes grupos para serem instruídas por completos estranhos, envolvidos com sindicatos esquerdistas.

Vale lembrar que progressistas como Horace Mann, no século XIX, viram as escolas públicas norte-americanas como uma ferramenta para homogeneizar os filhos de imigrantes católicos (entre outros) e incutir neles “atitudes socialmente produtivas e seculares”, favorecidas por filósofos como John Stuart Mill.

A intenção anticatólica dos pioneiros da educação pública foi uma das principais razões que levaram os bispos de dioceses inundadas por imigrantes pobres a empreender o esforço heroico de construir um sistema completo de educação alternativa para os católicos. Este sistema, infelizmente, está desmoronando diante dos nossos olhos no exato momento em que as famílias católicas mais precisam dele.

Grande parte do crescimento do ensino doméstico (home schooling) entre os católicos norte-americanos é uma resposta à contração trágica das escolas católicas, que não podem mais contar com o trabalho livre de dezenas de milhares de religiosos abnegados. Além disso, as escolas públicas abandonaram há muito tempo o patriotismo que costumava caracterizá-las e hoje se organizam em torno de um princípio muito diferente: o do hedonismo utilitarista.

Este credo, que é o código moral de mais baixo denominador comum imaginável, afirma que aquilo que de fato importa na vida é maximizar a saúde física e o número de momentos felizes que se desfrutam antes da morte. Os únicos pecados não são contra a natureza nem contra Deus, mas contra a reivindicação legítima de um vizinho de ter a sua própria quota de momentos felizes. Este seria, então, o trabalho do governo: providenciar o máximo de momentos felizes para o máximo de pessoas.

Tendo em conta que esta visão de mundo substituiu o cristianismo como religião de Estado em quase todo o Ocidente, não é de estranhar que as crianças cujos pais desejam educá-las em outro credo se vejam em maus lençóis diante do governo e dos seus professores.

Os adeptos de qualquer outra religião que não seja essa “religião de Estado” têm que lutar arduamente para preservar as suas “estranhas” opiniões minoritárias; têm que lutar contra os administradores públicos da educação, contra os assistentes sociais, contra os juízes das varas defamília e contra outros vários “profissionais” a fim de resistir a essas medidas “óbvias e sensatas” destinadas a “promover a saúde pública”, tais como a educação sexual explícita, as aulas sobre “formas alternativas defamília” e os panfletos sobre contracepção entregues a crianças que ainda estão longe da idade legal de consentimento.

Como os pais cristãos rejeitam o ethos dominante desses tais “momentos felizes”, será quase impossível, para eles, discutir com os “especialistas” patrocinados pelo governo, para os quais palavras como “virtude”, “inocência” e “castidade” são tão alienígenas quanto o magistério.

Se tentarmos lutar no terreno do inimigo e argumentar que as nossas preferências morais produzirão mais momentos felizes do que as deles, simplesmente vamos perder. A nossa noção de bondade e de felicidade não pode ser quantificada com esse tipo de critério.

A única proteção legal que os pais (e, por conseguinte, os filhos) têm contra a doutrinação patrocinada pelo Estado em favor da sua nova “religião” oficial são os próprios direitos dos pais, que ainda não foram anulados de todo.

Os cristãos devem é lutar com total determinação para defender as suasfamílias da invasão insidiosa de um Estado que transforma a laicidade em hostilidade. Quanto maior o setor público, menor a liberdade dos cristãos.

Portanto, para defender a nossa gente, a começar pela nossa família, precisamos lutar contra a falta de limites do Estado. E se isso é “familismo retrógrado”, paciência: vamos adotá-lo ao máximo.

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